sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

AUTA DE SOUZA


Auta de Souza
Auta de Souza entra para a história da literatura potiguar por ser a melhor  definição entre o mundo privado e público que a mulher em sua época estava exposta.
A educação ministrada á mulher era precária e a vida doméstica as impediam de participar do ambiente social, era dentro de suas casas que a vida se passava bem diante de seus olhos. é por isso que devido ao ensino que recebera Auta de Souza escreveu a melhor poesia, que se podia fazer em seu tempo.
 Segundo Eloy de Souza:
As mulheres nessa época entregavam-se desde cedo aos trabalhos domésticos e, á parte os serviços subalternos, confiados às escravas, mães e filhas dividiam-se entre a cozinha, o cuidado das crianças, o fuso, a almofadas, o tear, a costura, a criação de aves caseiras e engorda de animais destinados a ser imolados nas quatro festa de ano. E quando alguma moça atingia a idade propícia ao casamento era submetida pelo pai a um exame meticuloso sobre a sua aptidão para tomar conta de casa; uma das provas consistia em se lhe entregar um pouco de sabão, no qual devia cortar ouro e fio, a libra convencional".
Auta de Souza nasceu em Macaíba no dia 12 de setembro de 1876, filha de Eloy Castriciano de Souza e de Henriqueta Leopoldina, tem como irmãos; Eloy de Souza nascido em 1873, Henrique Castriciano em 1874, Irineu Leão Rodrigues de Souza em 1875, e João Câncio Rodrigues de Souza em 1877.
Em 1879 sua mães aos 27 anos, morre de tuberculose, deste mesmo mal o seu pai em 1881 aos 39 anos, falece. Seu Irmão morre aos 12 anos, em uma explosão ocasionado pelo candeeiro, fazendo tais percas, parte do expressionismo triste de seus poemas.
" Mas... a gaiola vazia, 
Que eu conservo noite e dia,
Não sabem? é o coração...
é dentro dele que chora, 
A alma de meu irmão!"
(Souza, Auta de - Horto. Pg.36)
Com a morte de seus pais, Auta de Souza e seus irmãos vão para Recife, morar com avó  Silviana de Paula Rodrigues, ( Dindinha, avó materna).
No Recife em 1888, Auta vai estudar no colégio São Vicente de Paula, sob a orientação de professoras francesas, ( as quais faz referencia em seu livro), lá conheceu vários autores franceses, brasileiros e portugueses e dentre os autores de sua preferência estavam: Gonçalves Dias, Marco Aurélio, Vitor Hugo, Bossuet, Fenelou, Lamartine, Gonçalves Crespo, entre outros.
Aos 14 anos, vitimada pela tuberculose, abandona os estudos e volta para o Rio Grande do Norte, iniciando a caminhada pelos interiores do Agreste e Sertão em busca de cura, já que se acreditava que mudança de ares ajudava o tuberculoso a se curar, se dava a associação de que tal mal era desenvolvida ou que piorava em regiões úmidas.
Auta de Souza colaborou em diversos jornais e revistas e como seu irmão Henrique, adotou dois pseudônimos: Hilário das Neves e Ida Salúcio, dos quais assinava suas participações.
Por volta de 1895, Auta de Souza conheceu João Leopoldo da Silva Loureiro, promotor público de Macaíba, com quem namora um ano e com quem foi obrigada a se separar pelos irmãos por motivo de doença. Após um ano da separação o seu amado falece de tuberculose. Esse fato juntamente com a tristeza da perca dos seus pais e do irmão e da tuberculose que sofrerá. A fez terminar o seu livro, intitulado a principio de Dhálias, a posterior é publicado por nome de Horto.
Em 1900, o seu livro Horto é publicado, tornando um marco da poesia potiguar, o livro recebeu vários elogios da critica do país o sucesso fora tão grande que nos dois primeiros meses as primeiras edições haviam esgotado. Tudo por causa do estilo simples de expressar seus sentimentos, em versos.
Um ano após a consagração de seu livro. Auta de Souza falece em Natal no dia 7 de fevereiro de 1901. Sendo sepultada no cemitério do Alecrim. Em 1906 seus restos mortais são levados para a Igreja Matriz de Macaíba, e colocado no jazido da família.
Em 1951, foi feito uma lápide onde estavam os seus restos mortais com os versos extraídos de seu poema ao pé do túmulo:
"Longe da mágoa, enfim no céu repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais".
A certeza da morte a fez buscar consolo na religião, como uma maneira de suportar a dor de partir tão jovem. E assim escreve o poema Minha alma e o verso onde descreve tal situação.
MINH’ALMA E O VERSO



Não me olhes mais assim... Eu fico triste
Quando a fitar-me o teu olhar persiste
Choroso e suplicante...
Já não possuo a crença que conforta.
Vai bater, meu amigo, a uma outra porta.
Em terra mais distante.

Cuidavas que era amor o que eu sentia
Quando meus olhos, loucos de alegria,
Sem nuvem de desgosto,
Cheios de luz e cheios de esperança,
N’uma carícia ingenuamente mansa,
Pousavam no teu rosto?

Cuidavas que era amor? Ah! se assim fosse!
Se eu conhecesse esta palavra doce,
Este queixume amado!
Talvez minh’alma mesmo a ti voasse
E n’um berço de flor ela embalasse
Um riso abençoado.

Mas, não, escuta bem: eu não te amava.
Minha alma era, como agora, escrava...
Meu sonho é tão diverso!
Tenho alguém a quem amo mais que a vida,
Deus abençoa esta paixão querida:
Eu sou noiva do Verso.

E foi assim. Num dia muito frio.
Achei meu seio de ilusões vazio
E o coração chorando...
Era o meu ideal que se ia embora,
E eu soluçava, enquanto alguém lá fora
Baixinho ia cantando:

“Eu sou o orvalho sagrado
Que dá vida e alento às flores;
Eu sou o bálsamo amado
Que sara todas as dores.

Eu sou o pequeno cofre
Que guarda os risos da Aurora;
Perto de mim ninguém sofre,
Perto de mim ninguém chora.

Todos os dias bem cedo
Eu saio a procurar lírios,
Para enfeitar em segredo
A negra cruz dos martírios.

Vem para mim, alma triste
Que soluças de agonia;
No meu seio o Amor existe,
Eu sou filho da Poesia.”

Meu coração despiu toda a amargura,
Embalado na mística doçura
Da voz que ressoava...
Presa do Amor na delirante calma,
Eu fui abrir as portas de minh’alma
Ao verso que passava...

Desde esse dia, nunca mais deixei-o;
Ele vive cantando no meu seio,
N’uma algazarra louca!
Que seria de mim se ele fugisse,
Que seria de mim se não ouvisse
A voz de sua boca!

Não posso dar-te amor, bem vês. Meus sonhos
São da Poesia os ideais risonhos,
Em lago de ouro imersos...
Não sabias dourar os meus abrolhos,
E eu procurava apenas nos teus olhos
Assunto para versos.
© AUTA DE SOUZ
In Horto, 1900 

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