Beijos
As vezes, penso comigo
Que há beijos de toda cor;
Beijos que trazem consigo
Mil prisma, como o amor.
Assim, o beijo de Judas
Tem a cor da escuridão:
Guarda o horror das trevas mudas
E a negrura do carvão.
É negro, bem como a sombra
É traiçoeira na alfombra.
Parte um noivo, que enlouquece
Beijando a noiva, com pejo ...
Não sei porque, mas parece
Que é tão azul este beijo !
É azul porque a saudade
Tem a cor da imensidade !
Na liça, o guerreiro bravo
Vê cair o irmão exangue:
Beija-o e foge, que é escravo ...
Mas leva nos lábios sangue ...
Dado embora de joelho,
Aquele beijo é vermelho.
Quando afago a minha filha
E cinjo-a de encontro aos flancos,
Seu rosto como que brilha ...
Os beijos de mãe são brancos.
São brancos, bem como a lua
É alva, quando flutua ...
Febre
Por toda a parte rosas brancas vejo...
Rosas na fímbria loira dos Altares,
Coroadas de amor e de desejo...
Rosas no céu e rosas nos pomares.
Uma roseira o mês de Maio.
Aos pares
Surgem, da brisa ao tremulante arpejo,
Estrelas que recordam, sobre os mares,
Rosas envoltas num cerúleo beijo.
E quando Rosa, em cujo nome chora
Esta febre cruel que me devora,
De si me fala, em gargalhadas francas,
Muda-se em rosa a flor de meus martírios,
O som de sua voz, a luz dos círios...
O próprio Azul desfaz-se em rosas brancas.
Quando Nasceu
A Minha filha, como agora, eu penso,
Era, quando nasceu,
Um anjo de olhos cor do mar, suspenso
De um sonho cor do céu.
Era, quando nasceu,
Um anjo de olhos cor do mar, suspenso
De um sonho cor do céu.
Hoje um mês completou. Lírios se
abriam,
Aos raios da manhã,
E, abrindo as folhas, trêmulos, diziam:
Nasceu-nos uma irmã.
Aos raios da manhã,
E, abrindo as folhas, trêmulos, diziam:
Nasceu-nos uma irmã.
Movendo os negros cílios delicados,
De miragens tão nus,
Ela sentiu os olhos magoados
Por um raio de luz.
De miragens tão nus,
Ela sentiu os olhos magoados
Por um raio de luz.
Então, chorou. Um prófugo vagido
Do seio lhe saiu,
Tão leve como o ar, mais tênue que o gemido
Que um sorriso partiu ...
Do seio lhe saiu,
Tão leve como o ar, mais tênue que o gemido
Que um sorriso partiu ...
Por que será que a lágrima primeiro
Brilha nos olhos castos da criança,
Antes que o riso, místico e fagueiro,
Venha tecer-lhe um nimbo de esperança ?
Por que a dor nesta penumbra santa
Do poema da vida, no universo,
É a primeira estrofe que se canta
E sempre, e sempre ... o derradeiro verso?
Brilha nos olhos castos da criança,
Antes que o riso, místico e fagueiro,
Venha tecer-lhe um nimbo de esperança ?
Por que a dor nesta penumbra santa
Do poema da vida, no universo,
É a primeira estrofe que se canta
E sempre, e sempre ... o derradeiro verso?
Na gaze envolta de infinita mágoa,
Na solidão do luto e da saudade,
Dir-se-ia a terra, pobre gota de água
A boiar ... a boiar ... na imensidade!
Na solidão do luto e da saudade,
Dir-se-ia a terra, pobre gota de água
A boiar ... a boiar ... na imensidade!
De minha filha a lágrima bendita
Está no céu ... ai! quando quero vê-la,
Contemplo o azul da abobada infinita,
E vejo-a transformada numa estrela.
Está no céu ... ai! quando quero vê-la,
Contemplo o azul da abobada infinita,
E vejo-a transformada numa estrela.
Porque-bem sei que Deus recolhe o
pranto
Da criancinha escrava do martírio:
Guarda-o depois, em cofres de amianto,
Mudado em astro ou transformado em lírio.
Da criancinha escrava do martírio:
Guarda-o depois, em cofres de amianto,
Mudado em astro ou transformado em lírio.
Se esta verdade uma mentira fosse,
Nossa Senhora não viria à terra,
Trazer, num beijo cristalino e doce,
Toda a inocência que a criança encerra.
Nossa Senhora não viria à terra,
Trazer, num beijo cristalino e doce,
Toda a inocência que a criança encerra.
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Que seria, do céu, loiro e divino, ...........................................................................
Sempre queimado pela luz do sol ?
Basta a mãozinha branca de um menino
Para extinguir o incêndio do arrebol !
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