quinta-feira, 16 de abril de 2015

Casarão dos Guarapes

Foi erguido em 1858, a mando de Fabrício Pedrosa, representando o apogeu comercial de Macaíba no passado. Hoje só restam as lembranças de um passado glorioso. As ruínas do casarão foram tombadas a nível estadual em 22 de dezembro de 1990. Texto retirado do livro das velhas, volume VII, de Luiz da Câmara Cascudo. "Fabrício Gomes Pedrosa, pernambucano de Nazaré, em principio de 1847 estava em Natal, onde perdeu, a 29 de setembro, sua mulher, D. Ana da Silva de Vasconcelo. Em Natal morreriam mais duas esposa suas.Em 3 de julho de 1857, D. Damiana Maria Pedrosa e,a 20 de janeiro de 1910, D. luíza Florinda Pedrosa, com 80 anos, viúva do "senhor dos Guarapes". Nos arredores da cidade sonolenta, Fabrício Pedrosa ambientou um dos mais avassalantes e prestigiosos domínios comercias de que há notícia no Rio Grande do Norte. Pequeno comerciante, comprando ali e vendendo além, "feirante" como dizem em Portugal, mascate, na terminologia de outrora, andou escolhendo onde assentar sua casa, como águia procura o ninho para as conquista das serras ao redor. Fixou-se no Coité. O rio Jundiaí, subindo nas maré, coleava, riscando a terra convidativa. Era a boca da picada que levava ao sertão, o inicio dos "comboio", a estação de pausa de quem demandava o litoral, especialmente buscando sal. Fabrício construiu armazéns de taipa,beirando o Jundiaí. E um casebre para morar. Ai começa a história do Coité nas crônicas sociais da província. Vila em 1879, comarca em 1882, Freguesia em 1883,Cidade em 1889, Macaíba contará sua existência da vinda desse Fabrício, numa hégira comercial e vitoriosa. De Coité, que seria a Cidade de Macaíba, Fabrício irradiou a energia irresistível para todos os quadrantes. Monopolizador do sal para o sertão, distribuidor de fazendas, animou a indústria açucareira do vale do Ceará - Mirim, modificando o processo de fabricação, graças as observações em Pernambuco. Principia o financiamento da produção adquirido em condições únicas as safras. A volta de 1861 é o mais rico, o mais poderoso, o mais influente negociante. Para sua casa desce milhares de algodão, sacos de açúcar, couros, peles, curiosidades. Populariza as primeiras "faturas", os primeiros" conta correntes" para o sertão, mandando "boletins de saldos", devulgando as " novidades" da escrituração. Seu grande auxilio é Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, também pernambucano de Nazaré, casado em Natal, a 9 de dezembro de 1851, com D. Feliciana Maria da Silva Pedrosa, filha do "velho" Fabrício. Coité, pertencendo ainda ao Município de São Gonçalo, pertence politicamente a família Moura. Os Teixeira de Mouram filhos e netos de Estevão José Barbosa de Moura, são, tradicionalmente os chefes natos da zona inteira. Não é possível dois soberano no mesmo trono. Fabrício está rico, forte, imperioso, resoluto. Monta a cavalo e passeia, vistoriando a sede da futura praça de guerra. Agrada-o "Mangabeira", dos Souza. La entabulando compra quando lhe disseram que os Moura estavam "em questão" com limites confusos. Não quero tais vizinhos, resmunga seu Fabrício. Veio vindo, olhando, parado, sonhando. Encontrou Guarapes, a colina solitária coberta de árvores, a curva do rio, amplo, igual, tranquilo. Fundou a " casa de Guarapes". Embaixo, margeando, de fila dos armazéns bojudos que tudo guardavam e vendiam. Em cima, os escritórios almoxarifados, a capela, a escola, o quartel- general de ação. Sob o comando de Fabrício Gomes Pedrosa, Guarapes era o centro comercial de repercussão, de conhecimento, de fama e poder. De 1869 a 1870, mais de vinte navios vem, em viagem direta, da Europa a Guarapes, carregar. NATAL, capital da província, nesse período recebeu, apenas vinte e um navios.Embarcações de 500 e mais toneladas fundeavam naquela curva silenciosa, apenas abrigando hoje a passagem de canoas pequeninas e barcaças anônimas. Tudo era rumor, vida, agitação, interesse, atividade. Em seu "RELATÓRIO", DE 5- 10-1872, o dr Henrique Pereira Lucena informava que:... convém notas que o tráfico mercantil em Guarapes, em tempo em que ali ainda residia o major Fabrício, lutou com vantagem com o de Natal e sobrepujou o da Macahyba, apesar de ser Fabrício negociante único naquela lugar; afluindo de todos os lados compradores aos seus armazéns, até mesmo do sertão da Paraíba e desta capital. Sisudo, decidido, sabendo mandar, Fabrício era simples e acolhedor.Naturalmente as anedotas explicavam, de mil formas, o sucesso econômico. Diziam que ele mudara para a Inglaterra, misturando com o açúcar, um dos morros de mais próximo. Certo é que honestidade era proverbial. Uma das maiores companhia de seguro inglesa, pagou um sinistro sem que tivesse documento de carga assegurada além da palavra do interessado. Fabrício, que costumava ouvir o BOI KALEMBA em dezembro, e não o admitia, furioso com o prejuízo, ao ser reembolsado, em julho,mandou buscar os negros do BUMBA MEU BOI e os fez dançar, pela primeira vez tal época. Por doença deixou a direção,indo o Rio de Janeiro. Faleceu no bairro de sta.Tereza, 22 de setembro de 1872, sendo sepultado no cemitério de s. João Batista. Seu genro, Amaro Barreto, continuou, em escala menor, a "casa de Guarapes" que voltou quase ao esplendor do passado com a direção do segundo Fabrício Gomes Pedrosa, nascido a 13- 7- 1856. Mudada para Natal, a "casa" veio até 1890, com força decisiva na "praça". Sem saudade, Fabrício II foi para o Rio de Janeiro onde a fortuna multiplicou. Morreu lá, seguindo, noutra direção, a campanha maravilhosa que a morte interrompia. Quem passa de automóvel, indo para Macaíba, no alto do monte, o casarão silencioso, mirando com os olhos apagados das janelas escuras, a época rutilante que o tempo levou..." Segundo Emílio Pereira, Os navios a vela que entrava aqui, no porto, trazia a bordo homens Louros, chamado pelos nativos de "gringos" traziam em pequenas sacolas moedas de ouros, libras esterlinas, para pagarem as mercadorias compradas. Por isso, gerou na convicção de muita gente, que o solar dos Guarapes, o seu Subsolo, está cheio de ouro, enterrado pelo proprietário, visto ser ele, Na época, o maior exportador de açúcar de toda a região. (A baixo a foto do casarão dos Guarapes como era, e como está atualmente. Precisamos resgatar a história da nossa linda cidade Macaíba.)
( Acervo pessoal Anderson Tavares de Lyra)

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